Resenha do Texto “Juventude,
Trabalho e Instituições Filantrópicas”
Delma
Pessanha Neves
O referido texto visa discutir a
dificuldade enfrentada pelas famílias pobres e pelos agentes institucionais, no
que se refere à inserção de jovens no mercado de trabalho. Ela atribui tal
dificuldade à restrição dos postos de trabalho e a desqualificação dos saberes
profissionais, dentre outros fatores. Os agentes institucionais que se propõem
a realização desse trabalho de orientação se vêem restritos a sugestão de
atividades provisórias, representadas por tarefas que não agregam um saber
profissional de fato.
O que é
questionado é o motivo pelo qual se demanda tais intervenções: a questão dos
jovens pobres, residentes em comunidades periféricas ou em situação de rua. Há
uma associação destes jovens a atividade criminosa, como uma reação da
sociedade, incentivada pela mídia, aos problemas de segurança pública,
especialmente no contexto do Rio de Janeiro.
Como leciona PESSANHA,
“ Se algumas medidas propostas são
disciplinares e outras promocionais, destaca-se mesmo a celebrada e inalcançada
projeção para o futuro por meio da profissionalização. No entanto, as soluções
nesse último aspecto são quase sempre transferidas à filantropia e exercidas
sob pontualidades e casualidades, incorporam, como parte inerente das
proposições em jogo, a parcialidade ou a incapacidade do Estado enquanto
instituição reguladora das condições de integração sob diferenciação, isto é,
portadora de meios de objetivação de formas de controle das exacerbadas
desigualdades socioeconômicas.” (p.101)
Tal afirmação está associada à
criminalização da pobreza, tema que vem ganhando espaços de discussão e se
caracteriza como um reflexo da questão social, na contemporaneidade,
especialmente nos países periféricos. Em um país como o Brasil, onde a
desigualdade social é marcada por extremos latentes, com clara opção política
pela adoção do modelo econômico neoliberal, ser pobre significa viver em
constante vulnerabilidade social, seja pela ausência de políticas públicas, que
atendam adequadamente suas demandas ou pelas refrações da violência direcionada
a esta camada populacional. E qual é a visibilidade do jovem pobre, neste
contexto?
Podemos
recorrer ao conceito de perfil criminoso orientado pela teoria positivista, no
qual, grosso modo, crime está associado a um agente criminoso, que possui um
perfil biológico generalizado e tal perfil se altera em determinados momentos
históricos. Na contemporaneidade, este perfil criminoso é reconhecido pela sociedade
no pobre, negro e jovem, morador de favelas. Portanto, o jovem que responde a
este perfil tende a sofrer discriminação, por ser enxergado como aquele que
oferece risco, aquele que comete o crime, logo, aquele que merece ser punido,
aquele que precisa ser controlado.
Para
além desta questão, há um descrédito da família, reconhecida socialmente como
instituição primaria de controle social. Portanto, a relação do jovem com o
crime é encarada socialmente como uma falha da família, o que também é reflexo
da criminalização da pobreza.
É
evidente que um jovem vivenciando uma situação caracterizada por violações de
direitos, passa de alvo de proteção, para agente criminoso, ou seja, alvo de
controle e/ou punição.
Neste contexto
entra o papel da profissionalização. Esta é apreendida no texto como intervenção
direcionada aos jovens, com objetivo-fim de inserção dos mesmos no mercado de
trabalho. Este papel, geralmente, é desempenhado por entidades da sociedade
civil, evidenciando a ineficiência por parte do Estado, em lidar com a questão.
A
profissionalização é encarada como uma solução para evitar o ingresso dos
jovens na relação com o crime. Podemos perceber que, num primeiro momento, o
jovem pobre é associado à prática do crime, portanto encarado como uma ameaça à
sociedade, não mais passível de controle por parte da família. Num segundo
momento, ocorre o incentivo a profissionalização deste jovem para desvinculá-lo
da pratica do crime. Tal processo se dá de maneira pontual, visando o acesso ao
mercado de trabalho através do subemprego, muitas vezes orientado pela
provisoriedade.
Concluímos
que o jovem, em situação de vulnerabilidade, acessa os programas de
profissionalização, respondendo a determinada política de criminalização. No
entanto, a profissionalização de fato não acontece, por um lado contribuindo
para o controle e a manutenção da ordem social, e por outro, frustrando
expectativas de mobilidade social, por meio do acesso ao mercado formal de
trabalho.
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