Serviço social na empresa
Talvez um
dos traços mais significativos da atualidade seja o verdadeiro turbilhão de
mudanças com as quais convivemos, trazendo novos padrões de relações sociais,
novos ritmos de vida, acompanhados de diversificadas demandas e necessidades
sociais.
Convivemos
hoje com novos parâmetros de organização empresarial/industrial, que repercutem
em todos os planos de vida da sociedade, pois não é apenas o modo do
trabalhador realizar sua atividade que está mudando, mas sim, o mundo do
trabalho em sua globalidade.
O impacto
da reestruturação produtiva, a velocidade das informações em todos os setores,
o conjunto de práticas que objetivam a implantação de processos voltados à
maior rentabilidade do capital num cenário de intensa competitividade no
mercado mundial, a consciência da responsabilidade social empresarial, provocam
assim grandes mudanças nos profissionais das empresas, incluindo aí, e
principalmente, os assistentes sociais.
A todos
eles hoje são cobrados: domínio da informatização, da tecnologia de projetos,
da pesquisa, das análises físico-financeiras para administração dos recursos de
suas áreas, avaliação dos resultados dos programas e projetos por eles
desenvolvidos, agilidade na tomada de decisão, interpretação dos cenários
socioeconômicos, identificando oportunidades de ação; capacidade de inovação,
transformação, polivalência, dentre outros.
Com as
empresas preocupadas em redefinir e integrar as políticas de gestão de pessoas
e a gestão do social às demais políticas e estratégias organizacionais, o campo
do Serviço Social do Trabalho se apresenta como um mercado fértil para a
profissão dos assistentes sociais.
Na
dinâmica contraditória em que opera o profissional do Serviço Social - que tem,
por um lado, as exigências da empresa, e por outro, os requerimentos dos
trabalhadores, que sofrem as conseqüências das relações hegemônicas – o dilema
e o desafio não está em optar por qual dos lados atender, se se decide por um
ou outro; mas em ter a capacidade de atender a um e ao outro, de superar esta
contradição.
Não se
trata de aceitar ou negar mecanicamente as demandas institucionais, nem de
assumir ou formar trincheiras com os trabalhadores.
Qualquer
dessas respostas optativas poderão levar a uma ação distanciada da realidade.
Trata-se
de reelaborar essa demanda e também o objeto da prática profissional, de modo a
desenvolver um trabalho que responda ao empregador, aos trabalhadores e ao
próprio assistente social, como um profissional que tem um comprometimento
ético-político-social, uma ideologia, e que pretende fazer mudanças por eles
norteadas.
Felizmente,
a imagem do assistente social como aquele profissional que deveria apenas estar
disponível para amortecer conflitos entre empregados e empregadores, ouvir e
solucionar problemas dos indivíduos, administrar benefícios, está sendo apagada
na mente dos dirigentes das organizações empresariais. A busca agora é por uma
ação moderna de gestão do Social, com foco no processo de busca de resultados
mais efetivos e transparentes. Embora a natureza do trabalho continue voltada
para a reprodução da força do trabalho ( afinal, estamos num sistema
capitalista), o desafio é responder às novas demandas de forma ética e
comprometida com a defesa da dignidade dos trabalhadores.
Isto
demanda aos assistentes sociais a tomada de consciência de um novo papel, onde
ele se coloque como aquele profissional que percebe a importância da sua
contribuição em todos os processos da organização, pois neles estão os seres
humanos, os seres sociais, em constantes interações; poderão assim contribuir
para a autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, conforme
os princípios éticos fundamentais da profissão.
Para isto
é importante que o profissional se perceba também como um estrategista, um
articulador, buscando espaço em todos os níveis da empresa para difundir e
praticar ações para a qualidade das interações sociais na empresa, acreditando
e investindo na potencialidade das pessoas e não focalizando suas carências;
defendendo os direitos humanos e recusando o arbítrio e o autoritarismo;
empenhando-se na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças; posicionando-se em favor da eqüidade e da justiça
social; enfim, buscando a ampliação e consolidação da cidadania, como prevê a
normatização de nossa profissão, e evitando assim que o trabalhador deixe de
lado suas necessidades como pessoa humana e se converta em instrumento para a
execução das necessidades do capital.
Embora
complexa, esta forma de agir pode-se dar em qualquer um dos espaços em que o
assistente social esteja trabalhando na empresa: seja compondo equipes para a
elaboração de políticas para contratação, valorização, remanejamento e demissão
de pessoal ou para organizar programas de melhoria da saúde ou de prevenção de
acidentes do trabalho, ou programas de responsabilidade social empresarial;
seja avaliando, implantando ou coordenando projetos sociais ( qualidade de
vida, preparação para aposentadoria, educação continuada, prevenção e
acompanhamento de casos de drogadição, programas de relações com a comunidade,
por exemplo); seja esclarecendo e encaminhando para recursos, ou seja
assessorando dirigentes/gerentes para as diferentes tomadas de decisão.
Importante
é garantir a manutenção de um perfil profissional seguramente qualificado para
o enfrentamento dos desafios gerados pelo contexto contemporâneo: que o
assistente social seja muito bem informado/atualizado ( fundamentos da
profissão, políticas públicas, Constituição Brasileira, Legislação Trabalhista
e Previdenciária, LOAS, ECA, etc ), divulgando, esclarecendo e cobrando
direitos e deveres; esteja permanentemente em processo de pesquisa da realidade
com a qual está trabalhando ( saiba fazer a leitura dos acontecimentos e
apontar alternativas); invista em educação continuada; tenha visão crítica,
objetividade, domínio da escrita; estimule e favoreça o trabalho com outras
categorias profissionais, permitindo uma visão ampla das situações trabalhadas;
articule e faça parte de rede de parcerias, que ampliem a mobilização; que
tenha um sistema de referência e contrareferência que possa auxiliá-lo em suas
demandas, para resposta ágeis; e que procure dar visibilidade de seu trabalho,
registrando e divulgando os seus resultados. Assim, o Serviço Social do
Trabalho será realmente um assessor da empresa para a gestão do social.
Se ele
não ocupar seu espaço, outras categorias o farão.
E aí,
teremos perdido mais uma oportunidade de avançar na defesa de um mundo
igualitário, em que a justiça social seja o eixo central das relações sociais.
A análise
da dialética da realidade nos indica que o ponto de chegada deve sempre se
transformar em novo ponto de partida. É exatamente este momento que estamos
vivendo agora, tendo em vista que o GASE/
Grupo de
Assistentes Sociais de Empresas, criado há mais de 20 anos para debater e
trocar experiências sobre o Serviço Social do Trabalho, encontra no CRESS- MG
um parceiro que permitirá maior socialização deste trabalho.
Que
possamos investir na criação e articulação dos meios necessários para o avanço
do exercício profissional crítico e competente, que é o que esperamos e
procuramos.
Rosa
Maria de Sousa Santos – CRESS 727 – assistente social com prática em empresas
desde 1974, e uma das fundadoras do GASE, é graduada em Serviço Social pela
PUC-MG e tem especialização em Pedagogia Empresarial e em Serviço Social e
Política Social. Trabalhou nas empresas RCS ELETRÔNICA LTDA, PHB/POHLIG HECKEL
DO BRASIL S.A., SISTEMA FIEMG/SESI, e atualmente atua como Consultora,
desenvolvendo oficinas, cursos e palestras em empresas e escolas. Principais
temas trabalhados: Responsabilidade Social Empresarial, Diversidade,
Planejamento Financeiro Familiar.
Texto extraído do site: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAY_UAG/servico-social-na-empresa