Resumo do texto:
"Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais"
Autora: Luciana Kind
Objetivo do artigo: Oferecer
elementos para a utilização criteriosa da técnica de grupos focais em práticas
investigativas, se concentrando em descrever o que é um grupo focal,
reconhecendo critérios para sua constituição e as etapas da condução do grupo.
O grupo focal é essencialmente
uma técnica de coleta de dados, sendo esta a característica principal deste
tipo de grupo. Contudo, é destacada a necessidade de se orientar por
pressupostos teóricos e metodológicos que sustentem sua utilização. Ou seja, a
realização de um grupo focal deve estar orientada por uma metodologia para
obter um resultado que se espere, e também, a utilização do grupo focal para
atingir determinado objetivo, deve ser justificada.
A perspectiva do grupo focal
apresenta-se como uma entrevista em grupo, que atende a fins específicos em
dada investigação Não se trata, contudo, de entrevistar indivíduos num mesmo
espaço físico. Devemos considerar que essa técnica tem seus fundamentos
teórico-metodológicos nas teorias de grupo, na sociologia e na psicologia
social crítica.
O grupo focal surgiu na década de
1950, quando foi utilizada por Robert Merton para avaliar a audiência de um
programa de rádio. Marton percebeu que as pessoas tinham dificuldade de dar
opinião sobre filmes e programas individualmente, que elas se expressavam
melhor para dar este tipo de opinião quando estavam em grupo.
Os grupos focais utilizam, portanto,
a interação grupal para produzir dados e insights que seriam dificilmente
conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos, então, levam em conta o processo
do grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, sentimentos e pontos
de vista individuais em jogo. A despeito disso, o grupo focal conserva o
caráter de técnicas de coleta de dados, adequado, priori, para investigações
qualitativas.
O pesquisador, utilizando o grupo
focal, tem a possibilidade de ouvir diversas pessoas ao mesmo tempo, além de
observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo
obter uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações
de pequenos grupos acerca de um tema determinado.
DESENHO E A CONDUÇÃO DA TÉCNICA
DE GRUPOS FOCAIS:
Indicações para o uso do grupo
focal:
- · exploração inicial com pequenas amostragens da população;
- · investigação profunda de motivações, desejos, estilos de vida dos grupos;
- · compreensão da linguagem e das perspectivas do grupo;
- · teste de conceitos e questões para futuras investigações quantitativas;
- · acompanhamento de pesquisa qualitativa;
- · obtenção de informações sobre um contexto específico;
- · obtenção de informações sobre novos produtos, conceitos, fenômenos, etc.
Razões que justificam a escolha
dessa técnica. Devemos utilizar grupos focais quando:
- 1. A interação pode fomentar respostas mais interessantes ou novas e idéias originais;
- 2. A pressão de participantes homogêneos facilita suas reflexões, ao mesmo tempo que incita opiniões contrárias;
- 3. O tema não é tão delicado a ponto de dificultar as respostas;
- 4. O tema tem a possibilidade de ser discutido por todos os participantes;
A autora
utiliza outro autor (AIGNEREN, 2001) para apontar desvantagens do grupo focal:
não permite generalizações; facilmente se confundem os pontos de vista do grupo
como sendo característicos daquele conjunto de indivíduos e não como de um
coletivo social maior, com expressões culturais distintas; geralmente se
menospreza a importância de habilidade do morador na condução da discussão.
è
Como se constituem os grupos focais?
É necessário haver um moderador e
um observador. No entanto, todos os demais critérios de Constituição dos grupos
focais devem ser coerentes com os objetivos da pesquisa previamente definidos.
Portanto, cabe ao pesquisador definir como o grupo irá se constituir. Devem ser
observadas as seguintes diretrizes:
a)
Devem ser
organizados pelo menos dois grupos para cada variável pertinente ao tema
que será abordado;
b)
Deve-se organizar um número de grupos
suficientes para que haja saturação do tema;
è
Número de participantes:
Não há consenso quanto ao número de participantes.
Alguns autores indicam de seis a quinze pessoas. Outros autores são mais
cautelosos quanto ao número elevado de participantes e destacam entre outros
problemas, a dificuldade de garantir que todos tenham a oportunidade de falar.
Esses autores indicam de oito a dez participantes por grupo. A autora ressalta
que determinadas questões exigem “mini-grupos” para que sejam abordadas em
profundidade.
è
Duração e número de encontros:
A duração média sugerida é de 90 a 120 minutos. Se a
informação desejada for muito específica, não deve ultrapassar 40 minutos.
Em geral, a combinação de objetivos de pesquisa
claros, a construção de um temário adequado, e uma equipe de moderador e
observador capacitados dispensa mais de um encontro por grupo. Caso o tema não
tenha sido suficientemente debatido, pode-se marcar novo encontro.
è
Local:
O ambiente ideal deve propiciar privacidade, ser
confortável, de fácil acesso e estar livre de barulhos.
è
Moderador:
A escolha do moderador deve considerar:
a)
Características pessoais: Abertura para a
discussão e a postura de acolhimento diante dos participantes, o distanciamento
com relação ao tema, de forma a acolher posições contrárias de maneira
respeitosa e hábil para escutar os integrantes, e a consciência das suas
intervenções verbais e não verbais.
b)
Estilos de moderação: diz respeito à atitude e
ao comportamento do moderador diante do grupo (mais amigável, provocativo, mais
ativo, menos ativo,...). Muitas vezes é o ritmo do grupo que determina o estilo
de moderação. Um moderador mais experiente pode mudar seu estilo quando o grupo
exigir.
c)
Experiência e antecedentes: tendo o moderador
conhecimento especializado no tema de estudo, há a possibilidade de uma
mediação mais fluida. O moderador não é mestre, não é juiz. Por sua vez, o
grupo focal não é um texto com respostas certas e erradas.
ü Normalmente
o moderador é também o pesquisador responsável pela investigação.
ü A
tarefa básica do moderador é manter o grupo em interação por um tempo de 60 a
90 minutos, com a finalidade de obter dados acerca do tema da pesquisa.
ü Quando
o pesquisador trabalha com um referencial teórico específico, o papel do
moderador está comprometido também com as premissas desse referencial.
è
Observador:
O observador é fundamental para
validar a investigação que utiliza o grupo focal. Um dos papéis mais
importantes do observador é analisar a rede de interações presentes durante o
processo grupal. Cabe a ele, também, apontar as reações do moderador com
relação ao grupo, suas dificuldades e limitações. O observador deve ter posição
menos ativa, restringindo-se ao registro de comunicações não verbais,
linguagem, atitudes, preocupações e ordem de respostas que seja considerada
importante.
O papel principal do observador é
viabilizar a discussão após o término do grupo com o moderador, quando o
primeiro expõe suas impressões e registros, com o intuito de redefinir o
temário, evitar conclusões precipitadas por parte do moderador, avaliar as
interações feitas.
è
O temário ou guia de temas:
É elaborado conforme o objetivo
do grupo. É uma orientação, um auxílio para a memorização de questões
importantes a ser tratados. Deverá ser flexível o suficiente para que a
discussão transcorra de forma espontânea e ainda assegurar que novas questões
possam ser introduzidas. É aconselhada a formulação do temário, para que o
debate não corra o risco de se tornar uma conversa desestruturada.
è
A condução da discussão:
Etapas previstas: abertura,
preparação, debate, encerramento, discussão, ação posterior.
- 1. Introdução: abertura do moderador: O moderador deve fazer breve introdução, com o objetivo de tranquilizar e estabelecer o enquadre para o grupo; ele se apresenta e explica os objetivos do grupo; em seguida assegura para os participantes que não existem opiniões corretas, que as opiniões contrárias são bem vindas. O moderador pede que falem um de cada vez, e explica que é permitido intervir na fala do outro, mas que deve ser evitada interrupção desnecessária. Pede-se permissão para gravar, quando está previsto na pesquisa.
- 2. Etapa I: preparação: O moderador convida os participantes a se apresentarem. O objetivo é estabelecer boa relação entre os participantes. No final desta etapa, os vários indivíduos devem estar interagindo e começando a se organizar em torno do tema.
- 3. Etapa II: conjunto do debate em grupo: O objetivo agora se aproxima mais dos objetivos da pesquisa: explorar plenamente a natureza da dinâmica das atividades associadas com os comportamentos dos participantes e observar diretamente a linguagem e emoções dos participantes associados com a temática tratada.
Nesta hora, o
mediador deve dispor da sua habilidade de permitir que o debate transcorra de
forma espontânea, estando atento, porém, para os prováveis desvios do tema. É
essencial a investigação em profundidade. Devem-se recorrer a técnicas que
aprofundem a discussão.
- 4. Etapa III: encerramento do grupo: O encerramento requer a exposição, de maneira sintética, da discussão promovida pelo grupo focal. Pode-se também esclarecer dúvidas que tenham ficado pendentes.
- 5. Etapa IV: questões posteriores à avaliação do grupo: É a análise de implicações do moderador em relação à pesquisa e ao grupo. É hora de avaliar também a experiência do grupo, e se a divisão do grupo e a temática foram adequadas.
- 6. Etapa V: ação posterior: Esta etapa visa verificar se as necessidades de informação foram satisfeitas, se são necessários mais grupos, se o temário precisa ser revisto e se é necessária uma investigação quantitativa de alguns resultados.
è
Análise dos dados:
Krueger (2002) apresenta a
análise de dados acontecendo de forma concomitante ao processo de condução do
grupo. A postura do moderados, a etapa de ação posterior e a própria qualidade
da transcrição dos dados devem ser consideradas no processo de análise.
Bardim (1988) considera que o
procedimento de análise de grupos focais envolve tanto uma análise temática
quanto uma análise das interações necessariamente interligadas.
Muito boooom !
ResponderExcluirTexto excelente!
ResponderExcluir