quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Grupo Focal


Resumo do texto: "Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais"
Autora: Luciana Kind

Objetivo do artigo: Oferecer elementos para a utilização criteriosa da técnica de grupos focais em práticas investigativas, se concentrando em descrever o que é um grupo focal, reconhecendo critérios para sua constituição e as etapas da condução do grupo.
                O grupo focal é essencialmente uma técnica de coleta de dados, sendo esta a característica principal deste tipo de grupo. Contudo, é destacada a necessidade de se orientar por pressupostos teóricos e metodológicos que sustentem sua utilização. Ou seja, a realização de um grupo focal deve estar orientada por uma metodologia para obter um resultado que se espere, e também, a utilização do grupo focal para atingir determinado objetivo, deve ser justificada.
              A perspectiva do grupo focal apresenta-se como uma entrevista em grupo, que atende a fins específicos em dada investigação Não se trata, contudo, de entrevistar indivíduos num mesmo espaço físico. Devemos considerar que essa técnica tem seus fundamentos teórico-metodológicos nas teorias de grupo, na sociologia e na psicologia social crítica.
           O grupo focal surgiu na década de 1950, quando foi utilizada por Robert Merton para avaliar a audiência de um programa de rádio. Marton percebeu que as pessoas tinham dificuldade de dar opinião sobre filmes e programas individualmente, que elas se expressavam melhor para dar este tipo de opinião quando estavam em grupo.
          Os grupos focais utilizam, portanto, a interação grupal para produzir dados e insights que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos, então, levam em conta o processo do grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista individuais em jogo. A despeito disso, o grupo focal conserva o caráter de técnicas de coleta de dados, adequado, priori, para investigações qualitativas.
           O pesquisador, utilizando o grupo focal, tem a possibilidade de ouvir diversas pessoas ao mesmo tempo, além de observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo obter uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos acerca de um tema determinado.
          
DESENHO E A CONDUÇÃO DA TÉCNICA DE GRUPOS FOCAIS:

Indicações para o uso do grupo focal:

  • ·         exploração inicial com pequenas amostragens da população;
  • ·         investigação profunda de motivações, desejos, estilos de vida dos grupos;
  • ·         compreensão da linguagem e das perspectivas do grupo;
  • ·         teste de conceitos e questões para futuras investigações quantitativas;
  • ·         acompanhamento de pesquisa qualitativa;
  • ·         obtenção de informações sobre um contexto específico;
  • ·         obtenção de informações sobre novos produtos, conceitos, fenômenos, etc.


Razões que justificam a escolha dessa técnica. Devemos utilizar grupos focais quando:

  • 1.       A interação pode fomentar respostas mais interessantes ou novas e idéias originais;

  1. 2.       A pressão de participantes homogêneos facilita suas reflexões, ao mesmo tempo que incita opiniões contrárias;
  2. 3.       O tema não é tão delicado a ponto de dificultar as respostas;
  3. 4.       O tema tem a possibilidade de ser discutido por todos os participantes;


A autora utiliza outro autor (AIGNEREN, 2001) para apontar desvantagens do grupo focal: não permite generalizações; facilmente se confundem os pontos de vista do grupo como sendo característicos daquele conjunto de indivíduos e não como de um coletivo social maior, com expressões culturais distintas; geralmente se menospreza a importância de habilidade do morador na condução da discussão.

è Como se constituem os grupos focais?
É necessário haver um moderador e um observador. No entanto, todos os demais critérios de Constituição dos grupos focais devem ser coerentes com os objetivos da pesquisa previamente definidos. Portanto, cabe ao pesquisador definir como o grupo irá se constituir. Devem ser observadas as seguintes diretrizes:
a)      Devem ser  organizados pelo menos dois grupos para cada variável pertinente ao tema que será abordado;
b)      Deve-se organizar um número de grupos suficientes para que haja saturação do tema;

è Número de participantes:
Não há consenso quanto ao número de participantes. Alguns autores indicam de seis a quinze pessoas. Outros autores são mais cautelosos quanto ao número elevado de participantes e destacam entre outros problemas, a dificuldade de garantir que todos tenham a oportunidade de falar. Esses autores indicam de oito a dez participantes por grupo. A autora ressalta que determinadas questões exigem “mini-grupos” para que sejam abordadas em profundidade.

è Duração e número de encontros:
A duração média sugerida é de 90 a 120 minutos. Se a informação desejada for muito específica, não deve ultrapassar 40 minutos.
Em geral, a combinação de objetivos de pesquisa claros, a construção de um temário adequado, e uma equipe de moderador e observador capacitados dispensa mais de um encontro por grupo. Caso o tema não tenha sido suficientemente debatido, pode-se marcar novo encontro.

è Local:
O ambiente ideal deve propiciar privacidade, ser confortável, de fácil acesso e estar livre de barulhos.

è Moderador:
A escolha do moderador deve considerar:
a)      Características pessoais: Abertura para a discussão e a postura de acolhimento diante dos participantes, o distanciamento com relação ao tema, de forma a acolher posições contrárias de maneira respeitosa e hábil para escutar os integrantes, e a consciência das suas intervenções verbais e não verbais.
b)      Estilos de moderação: diz respeito à atitude e ao comportamento do moderador diante do grupo (mais amigável, provocativo, mais ativo, menos ativo,...). Muitas vezes é o ritmo do grupo que determina o estilo de moderação. Um moderador mais experiente pode mudar seu estilo quando o grupo exigir.
c)       Experiência e antecedentes: tendo o moderador conhecimento especializado no tema de estudo, há a possibilidade de uma mediação mais fluida. O moderador não é mestre, não é juiz. Por sua vez, o grupo focal não é um texto com respostas certas e erradas.
ü  Normalmente o moderador é também o pesquisador responsável pela investigação.
ü  A tarefa básica do moderador é manter o grupo em interação por um tempo de 60 a 90 minutos, com a finalidade de obter dados acerca do tema da pesquisa.
ü  Quando o pesquisador trabalha com um referencial teórico específico, o papel do moderador está comprometido também com as premissas desse referencial.

è Observador:
O observador é fundamental para validar a investigação que utiliza o grupo focal. Um dos papéis mais importantes do observador é analisar a rede de interações presentes durante o processo grupal. Cabe a ele, também, apontar as reações do moderador com relação ao grupo, suas dificuldades e limitações. O observador deve ter posição menos ativa, restringindo-se ao registro de comunicações não verbais, linguagem, atitudes, preocupações e ordem de respostas que seja considerada importante.
O papel principal do observador é viabilizar a discussão após o término do grupo com o moderador, quando o primeiro expõe suas impressões e registros, com o intuito de redefinir o temário, evitar conclusões precipitadas por parte do moderador, avaliar as interações feitas.

è O temário ou guia de temas:
É elaborado conforme o objetivo do grupo. É uma orientação, um auxílio para a memorização de questões importantes a ser tratados. Deverá ser flexível o suficiente para que a discussão transcorra de forma espontânea e ainda assegurar que novas questões possam ser introduzidas. É aconselhada a formulação do temário, para que o debate não corra o risco de se tornar uma conversa desestruturada.

è A condução da discussão:
Etapas previstas: abertura, preparação, debate, encerramento, discussão, ação posterior.
  • 1.       Introdução: abertura do moderador: O moderador deve fazer breve introdução, com o objetivo de tranquilizar e estabelecer o enquadre para o grupo; ele se apresenta e explica os objetivos do grupo; em seguida assegura para os participantes que não existem opiniões corretas, que as opiniões contrárias são bem vindas. O moderador pede que falem um de cada vez, e explica que é permitido intervir na fala do outro, mas que deve ser evitada interrupção desnecessária. Pede-se permissão para gravar, quando está previsto na pesquisa.
  • 2.       Etapa I: preparação: O moderador convida os participantes a se apresentarem. O objetivo é estabelecer boa relação entre os participantes. No final desta etapa, os vários indivíduos devem estar interagindo e começando a se organizar em torno do tema.
  • 3.       Etapa II: conjunto do debate em grupo: O objetivo agora se aproxima mais dos objetivos da pesquisa: explorar plenamente a natureza da dinâmica das atividades associadas com os comportamentos dos participantes e observar diretamente a linguagem e emoções dos participantes associados com a temática tratada.

Nesta hora, o mediador deve dispor da sua habilidade de permitir que o debate transcorra de forma espontânea, estando atento, porém, para os prováveis desvios do tema. É essencial a investigação em profundidade. Devem-se recorrer a técnicas que aprofundem a discussão.
  • 4.       Etapa III: encerramento do grupo: O encerramento requer a exposição, de maneira sintética, da discussão promovida pelo grupo focal. Pode-se também esclarecer dúvidas que tenham ficado pendentes.
  • 5.       Etapa IV: questões posteriores à avaliação do grupo: É a análise de implicações do moderador em relação à pesquisa e ao grupo. É hora de avaliar também a experiência do grupo, e se a divisão do grupo e a temática foram adequadas.
  • 6.       Etapa V: ação posterior: Esta etapa visa verificar se as necessidades de informação foram satisfeitas, se são necessários mais grupos, se o temário precisa ser revisto e se é necessária uma investigação quantitativa de alguns resultados.


è Análise dos dados:
Krueger (2002) apresenta a análise de dados acontecendo de forma concomitante ao processo de condução do grupo. A postura do moderados, a etapa de ação posterior e a própria qualidade da transcrição dos dados devem ser consideradas no processo de análise.
Bardim (1988) considera que o procedimento de análise de grupos focais envolve tanto uma análise temática quanto uma análise das interações necessariamente interligadas.



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